quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Fenarj adere aos fundos de pensão (por Elaine Tavares (jornalista)


A Federação dos Jornalistas, a cada dia que passa, vai aprofundando suas contradições e equívocos. Primeiro, propôs discutir a regulamentação da profissão com patrões e governo, numa mesa de “negociação”, como se fosse possível “negociar” alguma coisa com os donos da mídia, em igualdade de condições. Além do que, nos parece uma tremenda ingenuidade, para não dizer outra coisa, permitir que os patrões partilhem da decisão sobre como devem os trabalhadores jornalistas se organizar. É como chamar os lobos para que ajudem a decidir por onde devem passar as ovelhinhas.

Depois, decidiu reavivar a discussão da criação do Conselho de Jornalistas, mais um órgão para acolher burocratas que não querem largar o poder. Sem contar que criar um conselho para os jornalistas aprofundaria na profissão a idéia de que esta é uma profissão liberal, de pequenos empresários da comunicação, pessoas jurídicas capazes de prestar serviços aos grandes, fazendo girar assim, com mais força a roda do capital. Embora, é claro, esses “empresários” sejam tão explorados quando os que trabalham de carteira assinada. O conselho para jornalistas apenas enfraqueceria a luta sindical, bem ao gosto dos patrões. E o pior é que nós, que fazemos a crítica, ainda somos acusados de “fazer o jogo da direito” por dirigentes da Fenaj. Risível se não fosse trágico. Quem está fazendo o jogo dos patrões é quem aposta no enfraquecimento da luta de classe.

Pois agora, na contramão da história, em plena crise sistêmica, a Fenaj apresenta mais uma saída neoliberal para seus filiados: a contratação de previdência privada. Pelas informações que circulam nos jornais, oito sindicatos de jornalistas já teriam aderido à idéia. Então, agora, a federação pretende fechar acordo com a Petros, empresa criada para cuidar dos fundos de pensão dos trabalhadores da Petrobrás. Mas, que, com o processo de privatização da empresa estatal, acabou abrindo as portas para outras entidades do setor, e agora abre mais ainda, acolhendo novos sócios.

E o que são os fundos de pensão? São fundos criados por empresas de cunho privado, para oferecer uma aposentadoria maior aos trabalhadores que querem enfrentar a velhice ganhando mais do que estipula o estado. Para isso, além dos 11% de desconto obrigatório que o trabalhador faz diretamente no contracheque para a Previdência pública, ele aplica mais outro tanto na complementação privada. Bom, até aí tudo bem. É um direito de cada trabalhador investir seu salário onde bem quiser.

As letrinhas miúdas

Mas, algumas questões precisam ser consideradas. A lógica dos fundos é a da capitalização, que segue a ordem do mercado capitalista e substitui a solidariedade entre gerações. Os fundos de pensão só conseguem garantir o pagamento das aposentadorias se este dinheiro que recebem hoje conseguir crescer. E o dinheiro só cresce se for investido em papéis que possam gerar lucro. Estes papéis onde os fundos investem o dinheiro dos contribuintes são comprados na bolsa de valores. Então, é um investimento de risco. Se a empresa que gere o fundo de pensão investir numa empresa que vier a falir, por exemplo, as pessoas perdem todo o dinheiro que investiram durante a vida toda. E, no mais das vezes, as pessoas que entram nos fundos de pensão não são esclarecidas quanto a isso. Raras sabem exatamente onde estão colocando o dinheiro.

No geral, as empresas de fundo de pensão propagandeiam lucros exorbitantes, gordas somas e alardeiam a possibilidade de volumosas aposentadorias. Como grande parte das pessoas está enredada na lógica financista do sistema capitalista, tudo o que quer é ver seu dinheiro lucrar sem que precise fazer força. Daí que os investimentos na bolsa de valores tornam-se tão atrativos. Mas, isso nada mais é do que a boa e velha prática da usura. Enriquecer a custa da desgraça alheia. E quem se desgraça? Os países subdesenvolvidos e seus povos que ficam com o rebotalho e a sujeira do sistema, expressas em colonialismo, dependência e super-exploração do trabalho.

O que causa espécie é ver a Fenaj embarcar de forma institucional nessa canoa furada, levando risco aos trabalhadores e aprofundando a violência do capital. E pior, o faz num momento em que o mundo vive uma grave crise no sistema, justamente provocada por este tipo investimentos sem lastro na produção. O desmantelamento do setor imobiliário nos Estados Unidos está levando à falência um número expressivo de pessoas que apostou todas as suas economias na bolsa de valores. E agora, é o que se quer também para o trabalhador jornalista?

Vamos então fazer um exercício de matemática. O jornalista catarinense ganha pouco mais de mil reais. Desse valor ele tira 11% para a previdência, tira mais um tanto para pagar a taxa do Conselho (se for criado, esperamos que não seja), paga o Plano de Saúde( porque raros são os que ficam no SUS e lutam por ele), paga isso e aquilo, e ainda vai investir na bolsa de valores? A sobra de um salário de fome vai para a bolsa? Ora , isso é irracional. A menos que esta história toda de fundo de pensão não seja para a plebe rude. A menos que só se esteja pensando naquela porcentagem ínfima de jornalistas-estrelas que ganha salários astronômicos nas grandes redes do país. Ah, tá! Então está explicado!

Fica aqui o alerta. Fundo de pensão é fria. É investir em papel volátil. É entrar na ciranda financeira que tantos sindicalistas se arvoram em criticar. É arriscar a velhice e colocar na roleta as economias de uma vida. Daí que os jornalistas precisam ficar muito alertas quando seu sindicato for discutir a questão. Há quem diga que isso só diz respeito ao livre arbítrio de cada um. Ninguém é obrigado a aderir. Isso é fato. Mas, muitas vezes, as pessoas não têm as informações. Daí a armadilha. Confiam em seus dirigentes e aceitam suas decisões. Por isso, ao discutir fundo de pensão, fique alerta. Promessas de ganhos fáceis quase sempre acabam mal.

No caso da Fenaj é triste ver a federação embarcando na onda da governança corporativa, ou seja, na proposta neoliberal do desaparecimento das fronteiras entre capital e trabalho, como se fosse possível, aqui nestas terras do sul, aplicarmos os conceitos habermasianos de consenso e negociação. A idéia de governança corporativa pressupõe alianças com banqueiros empresários, multinacionais. É uma relação odiosa, promíscua e fundamentalmente nociva para o trabalhador. Como bem lembra a fábula: um lobo nunca perde seus hábitos alimentares. É da natureza do capital destruir a força dos trabalhadores. Portanto, alerta!

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